Eu nasci no Rio Grande do Sul, sou gaúcha, riograndense. Cresci assistindo aos desfiles de 7 de setembro (Independência do Brasil) e na sequência os festejos da Semana Farroupilha (20 de setembro). Parece muita festa para um mês só. Mas existe um contraste em tudo isso.
A Indepência do Brasil é uma data que deveria envolver a todos de forma mágia, patriotismo, exaltação a um feito histórico. Não é o que percebemos no RS. Basta começar o mês de setembro para que os gaúcho se pilchem e passem a cultivar as tradições, como que numa preparação para o grande dia. No 20 de setembro é o auge da festa. Na capital onde vivo, o desfile reúne gaúchos de todos os pagos e um grande acampamento é organizado.
A tradição está no ar. No tradicional chimarrão, no churrasco. E pessoas de todos os cantos e recantos do mundo se aproximam tentando entender o que atrai tanto os nativos desta terra. Amor, paixão, fascinio. Tudo emana num coro só.
Mas findo setembro, esse amor hiberna até o próximo ano. Toda a garra, o respeito, a vontade de lutar por esta terra some, dá lugar a crítica, ao desleixo. Eis a questão que nenhum gaúcho conseguiu resolver: como tornar atual o sentimento que tanto exaltamos da revolução Farroupilha? A guerra deixou como herança o amor por esta terra. Sentimento que deveria perdurar todos os dias, deixando prevalecer o trabalho, o caráter, o respeito entre seus habitantes.
Como tão bem canta Dante Ramon Ledesma na canção América Latina...
Talvez um dia o gemido das masmorras
E o suor dos operários e mineiros
Vão se unir à voz dos fracos e oprimidos
E as cicatrizes de tantos guerrilheiros
Talvez um dia o silêncio dos covardes
Nos desperte da inconsciência deste sono
E o grito do sepé na voz do povo
Vai nos lembrar, que esta terra ainda tem dono
E as sesmarias, de campos e riquezas
Que se concentram nas mão de pouca gente
Serão lavradas pelo arado da justiça
De norte a sul, no Latino Continente